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terça-feira, março 09, 2010

Um dia eu também cheguei a casa a chorar...


Chegada de mais uma noite de madrugadas na vodafone, sinto-me quebrada, mas não consigo ir dormir antes de escrever... Algo me assalta desde que pus os pés em frente ao Atrium Saldanha e agradeci com um sorriso à menina que destribuia o jornal gratuito Metro.
Quem não se lembra do colega que era a chacota da turma quando éramos mais pequenos? Quem foi a chacota da turma? Quem chacoteava os colegas da turma?
Um dia eu cheguei a casa a chorar!
Tinha feito 10 anos nesse Verão, tinha mudado de casa, era nova no sítio, nova na escola e todos os meus colegas da primária tinham ido para outra escola e eu estava sozinha... Havia um menino lá na escola, cujo nome já nem me lembro que gostava de mim, e por algum motivo se decidiu a perseguir-me. Como eu não cedia aos seus encantos, do amor passou a ódio e ele e o primo decidiram perseguir-me por tudo quanto era sítio. Normalmente não me importava, brincava com as minhas colegas pelo recreio e não lhes dava grande importância. Azar dos azares, o primo que era Tiago, morava ali perto de mim, e num dia depois das aulas decidiu esperar por mim e armar o número da chacota da semana e perseguiu-me, empurrou-me, e ameaçava que me batia se eu não gostasse do primo. Fui a correr para casa e pela primeira vez entrei em casa a chorar. Quis Deus que eu tivesse a graça de ter uma irmã Bela que ferve em pouca água... sempre defensora daquilo que é seu, capaz de dar a vida por isso se tiver de ser, saiu de casa pronta para tirar satisfações com o Tiago que me andava a incomodar (nem ela sabia porquê, claro que nem sequer contei porque era super tímida... - depois de ler isto ela vai saber... hehehehe)
Uma visão fantástica de ver o meu agressor a um metro do chão, preso pelos colarinhos e com a minha irmã Bela a gritar lhe algo como: "Se tocas outra vez na minha irmã..."
Foi dito e certo. O Tiago nunca mais me incomodou, hoje em dia é segurança na estação do Pragal, e quando passo por ele dá-me vontade de sorrir de gozo pela imagem que ainda tenho na cabeça... Estou a ser cruel?? Talvez, mas eu nunca mais cheguei a casa a chorar. Protegida também depois pelos primos que tinha na escola (adorados e respeitados por todos) e claro, eu tinha sempre as piores turmas da escola. Era a delegada de turma e como até os defendia dos disparates que faziam nas reuniões, acabavam por gostar de mim também. Tive sorte, cresci adorada, cresci protegida, e passei a defender os que eram humilhados porque nunca me esqueci do dia em que cheguei a casa a chorar. Também fiz dos meus disparates, é claro, mas não gostava de ver humilhações e cobardias em praça pública (ou melhor, em recreio público) sem que me fosse meter pelo meio a tentar separar as guerras instaladas por rapazes/raparigas, por dinheiro, por inveja, ou simplesmente porque apeteceu a alguém.
Não tive o azar do menino de 12 anos tanto falado nas notícias. Tive alguém que me defendeu no dia em que cheguei a casa na primeira vez a chorar, e tive tempo de crescer, tornar-me forte e defender os outros. Tive sorte... fui levada ao colo por uma graça que este menino não teve.
Lembro-me da história da passadeira em frente à escola de Vale-Figueira, que já estava sumida pelo tempo e que só foi pintada quando duas crianças morreram atropeladas... é triste e não é um problema daqui, nem de Portugal, nem da Europa... é um problema do mundo. Porque em todo o lado só se faz algo, depois do pior acontecer. Aí sim há uma verdadeira chamada de atenção para o que se está a passar.

Infelizmente, é preciso haver mártires para que estas situações se falem, para que alguém desperte de uma ilusão de que só acontece aos outros ou então, de que só acontece porque estão a brincar. Mas este menino fartou-se da brincadeira, e não tinha uma Bela que agarrasse estes agressores pelo colarinho e os intimidasse. Agressores estes, que pelo relato do irmão e primo têm 17 anos... diga-se 17 ANOS! São jovens conscientes do mal que fazem. Em menos de um ano têm direito a voto e carta de condução e decidem o futuro de um país que é meu e que é teu! De uma vida que é minha e tua e dos teus filhos e dos meus sobrinhos e do teu irmão... e ...
Crise de valores na família, falava-se ontem... talvez! Mas o que fazer? Devolver na mesma moeda? Colocando-os em casas de correcção onde aprendem mais uns truques e saem de lá uns artistas na arte do crime? Talvez não... talvez sim... não sei... não me cabe a mim decidir, nem vou opinar sobre isso, mas tenho a dizer, que desejo a todas as crianças irmãs como as que tive, não só a Bela mas também a Sónia, que sempre me defenderam e talvez tenham evitado o pior...
Quem dera poder emprestá-las a cada um... Quem dera que nunca mais por este motivo, algum miudo tivesse de chorar...
Vou dormir... logo à noite há mais vodafone pra mim!
Beijo, Rute

3 comentários:

Mg disse...

cOlha... ia comentar mas o comment já ia tão extenso que decidi postar algo no blog... lê, lol .
Beijjjjjjjjjjooooooooo

Patricia Lopes disse...

Como mãe penso muitas vezes na maldade das crianças... como conseguem por vezes ter atnta crueldade...
Espero e Peço para que o meu filho tenha sempre alguem ao lado como a tua irmã bela caso eu não esteja para o protejer...
beijo

o meu nome nao é maria disse...

Apesar das circunstancias, gostei imenso da forma como voce pegou numa simples historia, de que eu tenho a certeza que todos nós passamos um dia...para exemplificar um caso verdadeiramente chocante! quero eu dizer... nao sao um, nem dois, sao varios casos e muitos deles nem conheçimento de que tenham existido nos temos. Enfim a vontade é sempre tao grandiosa principalmente com os mais pequeninos. Temos de ensina los de todas as formas possiveis a erguerem a cabeça e passarem que nem borboletas por esses problemas absurdos.

Continuaçoes e até ao proximo post :)