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quinta-feira, outubro 14, 2010

Tuaregs - Senhores do deserto...


Nesta Quinta-feira quase no fim da semana, constipadita e com alguma tosse (mas muito melhor que ontem.. lol) fiquei em casa.
Decidi: Vou limpar o meu email e ler tudo aquilo que deixei pra depois. Já sei no que vai dar porque certamente que vou abrir um power point, um vídeo, um texto qualquer que me vai impressionar e para não encher o mural do facebook com isto, vou ter de escrever... e escrever... e ... escrever!
Ainda não foi hoje que peguei no livro que tenho de acabar... ainda não vai ser este ano que o vou terminar e quem sabe publicar algum dos que já estão escritos. Hoje tocou-me a história deste Tuareg!
Por eu não gostar de relógios, por eu não gostar de andar pressionada pelo tempo nem por ninguém, por ainda ontem ter partilhado com um amigo que o importante é o que fazemos e somos hoje, porque o ontem já passou e o amanhã não sabemos se virá... por isto tudo e muito mais, deixo-vos esta entrevista de Víctor M. Amela a Moussa Ag Assarid!



" - Não sei minha idade.
Nasci no Deserto do Saara, sem documentos.
Nasci em um acampamento dos nômades tuaregs entre Timbuctu e Gao, ao norte de Mali.
Fui pastor de camelos, cabras, cordeiros e vacas de meu pai.
Hoje estudo gestão na Universidade de Montpellier.
Estou solteiro.
Defendo aos pastores tuaregs.
Sou muçulmano, sem fanatismo.
- Que turbante tão formoso!
- É uma fina tela de algodão: permite tapar o rosto no deserto, e continuar a ver e respirar através dele.
- É de um azul belíssimo…
- Nós, os tuaregs, somos chamados de homens azuis por isso: O tecido solta alguma tinta e nossa pele adquire tons azulados.
- Como conseguem esse tom de azul anil?
- Com uma planta chamada índigo, mesclada com outros pigmentos naturais. Para os tuaregs o azul é a côr do mundo.
- Por que?
- É a côr dominante: é a côr do céu, do tecto de nossa casa.
- Quem são os tuaregs?
- Tuareg significa “abandonados”, porque somos um velho povo nômade do deserto, solitários e orgulhosos: “Senhores do Deserto", é como nos chamam. Nossa etnia é a amasigh (bereber), e o nosso alfabeto, o tifinagh.
- Quantos são?
- Uns três milhões, e a maioria permanece nômade. Mas a população diminue. “É preciso que um povo desapareça, para que saibamos que ele existiu!” Apregoava um sábio. Eu luto para preservar esse povo.
- A que se dedicam?
- Pastoremos rebanhos de camelos, cabras, cordeiros, vacas e asnos num reino de imensidão e de silêncio.
- O deserto é realmente tão silencioso?
- Quando se está sozinho naquele silêncio, ouve-se o batimento do próprio coração. Não há lugar melhor para se estar sozinho.
- Quais recordações de sua infância vc conserva com maior nitidez?
- Desperto com a luz do sol e ali estão as cabras de meu pai. Elas nos dão leite e carne, nós a levamos onde há água e pasto… Assim fizeram meu bizavô, meu avô e meu pai… e eu. Não havia outra coisa no mundo além disso. E eu era muito feliz com isso.
- De facto! Não parece muito estimulante…
- Mas é muito! Aos sete anos já te deixam afastar-se do acampamento para que aprendas coisas importantes: farejar o ar, escutar, apurar a vista, orientar-se pelo sol e as estrelas… E a deixar-se levar pelo camelo, se vc se perder. Ele te levará onde há água.
- Saber isso é valioso, sem dúvida…
- Ali tudo é simples e profundo. Existem muito poucas coisas. E cada uma tem um enorme valor!
- Então esse mundo e aquele são muito diferentes, não?
- Ali cada pequena coisa te proporciona felicidade. Cada toque é valorizado. Sentimos uma enorme alegria pelo simples fato de nos tocarmos e estarmos juntos. Ali ninguém sonha com chegar a ser, porque cada um já o é!
- O que mais o chocou em sua primeira viagem à Europa?
- Ver as pessoas correndo pelo aeroporto. No deserto só se corre quando vem uma tempestade de areia. Me assustei. É claro!
- Eles apenas iam buscar suas malas…
- Sim! Era isso. Também vi cartazes de mulheres nuas. Me perguntei: porque essa falta de respeito para com a mulher?
Depois, no Íbis Hotel, vi a primeira torneira da minha vida, vi a água correndo e senti vontade de chorar…
- Que abundância! Que desperdício! Não?
- Todos os dias da minha vida consistiam-se em procurar água. Quando vejo as fontes ornamentais aquí e acolá, continuo sentindo por dentro uma dor tão intensa…
- Tanto assim?
- Sim! No começo dos anos 90 houve uma grande seca. Morreramos animais e nós adoecemos. Eu tinha uns 12 anos e minha mãe morreu. Ela era tudo para mim!
Me contava histórias e ensinou-me a contá-las muito bem.
Ela me ensinou a ser eu mesmo.
- O que sucedeu com sua família?
- Convenci meu pai que me deixasse ir à escola. Quase todos os dias
caminhava 15km. Até que um dia o professor me arranjou um lugar para
dormir e uma senhora me dava o que comer, quando eu passava em frente à sua casa. Entendi que essa ajuda vinha de minha mãe.
- De onde surgiu esse desejo de estudar?
- Uns dois anos antes, havia passado pelo nosso acampamento o rally Paris-Dakar, e uma jornalista deixou cair um livro de sua Mochila. Eu o apanhei e lhe entreguei. Ela me deu o mesmo de presente. Era um exemplar do Pequeno Príncipe e eu me prometi que um dia conseguiria lê-lo.
- E conseguiu?
- Sim! Foi assim que consegui uma bolsa de estudos na França.
- Um Tuareg na universidade!

- Ah, o que mais sinto falta aqui é o leite de camela... E o calor da fogueira, e de andar com os pés descalços na areia quente. Lá nós olhamos as estrelas todas as noites e cada estrela é diferente das outras como cada cabra é diferente.Aqui, à noite, você olha para TV.
- Sim! E o que vc acha pior aqui?
- Vocês tem tudo, mas não acham suficiente. Vocês se queixam. Na França passam a vida reclamando! Aprisionam-se pelo resto da vida à uma dívida bancária, num desejo de possuir tudo rapidamente ... No deserto não há congestionamentos e você sabe por quê? Porque lá ninguém quer ultrapassar ninguém!
- Conte-me um momento de extrema felicidade no seu deserto distante.
- Todo dia, duas horas antes do pôr do sol: a temperatura abaixa, mas ainda não chegou o frio, e os homens e os animais, lentamente voltam para o acampamento e seus perfis são recortados em um céu cor de rosa, azul, vermelho, amarelo, verde...
- Fascinante, na verdade...

- É um momento mágico ... Entramos todos na cabana e colocamos o chá para ferver. Sentamo-nos em silêncio, a ouvir a ebulição ...
A calma invade todos nós, e o nosso coração bate ao ritmo do barulho da fervura...
- Que paz!
- Aquí vocês tem relógio… … lá temos tempo.
VOCÊ TEM O RELÓGIO, EU TENHO O TEMPO!
NA NOSSA VIDA O TEMPO NÃO DEVE SER APENAS O MARCADO NO RELÓGIO.
QUANTAS VEZES NOS NOSSOS DIAS NOS FALTA “O TEMPO”?

O tempo é como um rio. Você não pode tocar a mesma água duas vezes, porque a água que passou, não passará de novo.
Aproveite cada momento da vida...
ENCONTRE TEMPO PARA VIVER!!
Se você vive dizendo como você está ocupado, então você nunca estará livre.
Se você vive dizendo que você não tem tempo, então você nunca terá tempo.
Se você vive dizendo o que vai fazer amanhã, esse amanhã nunca chegará.
Aproveite cada momento da vida ... Se você não usar o seu tempo durante o dia, você é o perdedor. É impossível voltar atrás.

Valorize cada momento vivido, e esse tesouro terá muito mais valor se você compartilhá-lo com alguém especial, especial o suficiente para você gastar com ele o seu tempo... e lembre-se que o tempo não espera por ninguém!"


1 comentário:

Unknown disse...

Você já leu os livros de Alberto Vazquez-Figueroa " Tuareg" e "Os olhos do Tuareg"? Maravilhosos.